terça-feira, 21 de abril de 2009


Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que ainda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato ainda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica como que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei-de partir


-Tom Jobim / Chico Buarque-

sábado, 11 de abril de 2009

Hoje queria palavras que fizessem explodir o infinito...

Hoje queria palavras que fizessem explodir o infinito...


Desassossego. Os sentidos faltam,não permitindo que beije a cor das folhas caídas deste Outono. Falta razão. Sinto a loucura, tateio a vida, tropeço em erros, desfaço sonhos e escorrego em ilusões. A sensibilidade não me foge mas queimo-me com ferro quente e apanho rosas picando-me nos espinhos. Voo. Sim. Sei que a minha intensidade mata. Tanto caiu às gargalhadas, como construo um mar de lágrimas, rebento o coração, entrego a alma. Sigo alienada, admirando o inútil. Ando sozinha, sem pressa. Só saudade. Dou os braços à solidão. Estranha companhia.

Beijos e Feliz Pásco Pra Você!

Lis Barreto!!

Desculpa-me se voltei a acreditar...

Desculpa-me se voltei a acreditar. Não digas a ninguém, é segredo. Perdoa por me ter perdido entre poemas de inverno – sempre à procura do verão.


Por já não saber descrever o brilho do sol.Aquele quente olhar dourado estático sobre o mundo. Me fazendo lembrar de seus raios só pq hoje chove. As palavras tb caem como chuva na minha pele.Até escorrerem em vertigem no meu sol mais luminoso. Deixa-me afogar na doçura deste sol. E desculpa (esta insistência cega que geme baixinho) se tb levo chuvas comigo.

...sorrio-te...

- Lis Barreto -

Aprisionada à liberdade de ser solidária com a solidão!

Escrevo com fome e silêncio, fora das convenções, fora da lógica, fazendo-me doer, porque não abro mão do que sinto.


Convoco enigmas, inexplicações, distancio-me para ficar mais perto no paroxismo do reencontro. Oscilo extremos. Esta sou eu sem aviso prévio, improcedente, doce, mas tão doce, percebe? Afeita ao afeto, só que arredia também, tudo de sim, tudo de não, talvez quase os dois. Eu não sou só um jogo de palavras. Eu sou a afirmação do que sinto profundamente. Esgoto em sombra e renovo em luz.Transito, oscilo, alucinada, responsável, contente e suicida. Cabeça dura, eu sei, eu sei. Mas com tanto amor impregnado e com um jeito de criança ardendo impulsos de presença...

Aprisionada à liberdade de ser solidária com a solidão!

- Lis Barreto -

O Que Tinha De Ser


Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher

Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser


- Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim -

Deixa eu te dizer antes que o ônibus parta...


...Deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim dum jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver nascer uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso.

- Caio Fernando Abreu -

Fica mais, só um pouco, querida...


fica mais, só um pouco, querida
apenas esquentei os motores
no seu corpo que é um rio,
quero explorar a margem esquerda,
nadar pelo meio
e tocar a margem direita,
assim como fizemos o outro dia,
por que não sai logo do banheiro?
sempre leva tanto tempo,
me impacienta,
tem que ser sempre
depois de um amor quente?
essa rotina da mulher pular da cama
logo depois do último gemido
mata toda a poesia,
querida, venha logo,
gosto de ver suas longas pernas
e suas pulseiras nos tornozelos,
todos os meus poemas dessa semana
serão sobre você querida,
enquadrada na porta do banheiro
entrando apressada com a toalha entre as pernas
e saindo preguiçosa com a toalha enrolada na cabeça

- Dominique Lotte -
(Fonte Escritoras Suicidas)